A acentuação gráfica é uma parte importante da escrita e gera dúvidas na cabeça de qualquer indivíduo que se disponha a aprendê-las; dentro desse assunto, destaca-se a confusão causada pelo acento grave, ou “crase”. Ele realmente tem usos bastante específicos, mas com atenção, conhecimento e treino, não é nada que não se tire de letra.
Compreendendo a diferença entre “crase” e “acento grave”
Entenda o que é a crase em si.
A palavra vem do grego krasis, que quer dizer “fusão”. De fato, a crase é a contração de duas vogais iguais dentro de uma palavra. Um exemplo é a palavra “nó”, que no português arcaico era escrita “noo” e, graças à crase, passou à forma atual.
Nessa definição, ela é um metaplasmo por supressão de sons, uma alteração fonética causada pela evolução do idioma. O caso do “nó” é um bom exemplo.
Entenda o que é o acento grave e por qual motivo é chamado de crase.
O acento grave é o traço à esquerda e, em português, só é usado com a vogal a.
Ele é chamado de crase pois, como dito anteriormente, esse é o nome dado à junção de duas vogais em uma só quando estão dentro da mesma palavra. No entanto, o acento grave marca a junção entre o artigo “a” e a preposição “a”, palavras diferentes entre si – tratam-se, portanto, de duas definições gramaticais com conceitos diferentes: a crase é um fenômeno linguístico e o acento grave, um acento gráfico.
Embora fazer essa distinção pareça uma inconveniência, ela é necessária; o uso correto das palavras e nomes evita mal-entendidos e isso vale para qualquer aspecto da comunicação. Ademais, este artigo visa ensinar o uso correto do acento grave, incluindo seu nome.
Relembrando as aulas de português
Relembre as classes gramaticais.
Para entender os casos em que o acento grave é usado, é necessário lembrar de alguns aspectos vinculados a ele na gramática. Este Passo abordará superficialmente esses aspectos, sempre com foco nos casos ligados ao acento.
Verbos. O verbo é a ação da frase e o núcleo do predicado. Ele pode ser conjugado em primeira pessoa (eu), segunda pessoa (tu/você), terceira pessoa (ele/a), quarta pessoa (nós), quinta pessoa (vós/vocês) e sexta pessoa (eles/as). Quando o verbo não está conjugado, ou seja, quando ele não é usado como ação, ele está no modo infinitivo; o título do filme “Comer, Rezar e Amar” é um bom exemplo dos verbos no infinitivo.
Substantivos. São as palavras usadas para nomear objetos, pessoas, animais, emoções, fenômenos, sensações, qualidades, números, datas, etc.
Exemplos de substantivos: carro, rosa, abelha, Maria, leite, computador, chuva, prazer, carisma, idade, óculos, Brasil, ar, etc.
Artigos. São as palavras que vêm antes dos substantivos. Eles servem para determinar o gênero (masculino ou feminino), o número (singular ou plural) e se o substantivo é definido ou indefinido. Por exemplo:
“A casa dela é logo ali”. “Casa” é um substantivo feminino, singular e definido (não é qualquer casa, é a casa dela), portanto, o artigo “a” também é feminino, singular e definido.
Os artigos definidos são a, as, o, os; os indefinidos são um, uma, uns, umas.
Preposições. São as palavras que amarram a frase, conectando os termos para que façam sentido de diversas maneiras. Já que o assunto desse artigo é o uso do acento grave, os exemplos a seguir serão somente sobre a preposição “a”, usada para dar sentido de:
Modo: “Andar a passos largos”.
Conformidade: “Farei isso à minha maneira”.
Destino: “O governo deu a casa às mulheres”.
Lugar: “Vou à Amazônia nas férias”.
Conjunção. As conjunções funcionam como a preposição e ligam termos semelhantes e orações diferentes dentro da mesma frase.
Alguns exemplos são mas, contudo, e, porém, por isso, etc.
Locução. O termo “locução” é usado para designar duas palavras com um significado só. Existem vários tipos de locução, mas somente as que levam acento grave serão abordadas neste artigo; no caso, as locuções adverbiais femininas, locuções prepositivas femininas e locuções conjuntivas femininas.
Locução adverbial: é o conjunto de duas ou mais palavras que fazem a função de advérbio, mudando o sentido de um verbo ou adjetivo. Existem diversas locuções adverbiais, mas somente três serão abordadas:
Locuções adverbiais de lugar: à direita, à esquerda, à frente, etc.
Locuções adverbiais de tempo: à tarde, à noite, às vezes, etc.
Locuções adverbiais de modo: à toa, à vontade, a pé, às pressas, etc.
Locução prepositiva: é o termo dado ao uso de duas palavras que, unidas, fazem o papel de preposição, conectando os termos da oração. Alguns exemplos são à espera de, à espreita de, à custa de, à altura de, à moda de, à base de, etc.
Locução conjuntiva: é o nome dado ao conjunto de palavras que têm função de conjunção, em geral terminados por “que”; à medida que, à proporção que.
Regência. A regência estuda a relação entre os termos da oração, verificando se eles precisam ou não de complemento (que pode ser preposição, conjunção, etc.). Elas são divididas entre regência verbal e regência nominal.
A regência verbal determina se o verbo é transitivo (requer complementos) ou intransitivo (não precisa de complementos); os verbos transitivos podem ser diretos (não precisam de complemento) ou indiretos (precisam de complemento). Eis alguns exemplos:
Verbo transitivo direto: “Eles adoram futebol”. O verbo “adorar” faz sentido sem o uso de complementos (quem adora, adora algo).
Verbo transitivo indireto: “Eu recorri à Suprema Corte”; o verbo “recorrer” exige complemento (quem recorre, recorre a algo ou a alguém). “Ele se dirigiu à mulher; o verbo “dirigir” requer complemento (quem se dirige, se dirige a alguém ou a algo).
Verbo Intransitivo: “Ontem nós nos casamos.” O verbo casar tem sentido por si só e não precisa de complemento, embora o aceite; por exemplo “Ontem nós nos casamos” poderia ter o complemento “de frente para o mar”, mas ele não é necessário.
A regência nominal trata da relação entre o substantivo, adjetivo ou advérbio transitivo direto e os termos regidos por ele através de uma preposição. Por exemplo, em “Tenho aversão à ideia de vomitar”, o termo “ter aversão” requer a preposição “a”, o que exige o uso do acento grave.
Pronomes. Existem diversos tipos de pronomes, mas abordaremos somente três:
Pronomes demonstrativos. Pronomes demonstrativos são aqueles usados para situar as pessoas no discurso: “Aquela casa é de Maria”; “O que é aquilo?”; “Não o vejo tanto com a esposa atual quanto com a de antes.”
Pronomes relativos. Os pronomes relativos representam palavras mencionadas anteriormente. Exemplos.: “a qual”, “ as quais”.
Pronomes de tratamento. São os termos usados para tratar as pessoas, como Vossa Excelência, você, senhorita, senhor ou senhora, tu, etc.
Caro leitor, até o nosso próximo bate-papo.