Caro leitor,
Hoje vamos conversar sobre o uso da crase! O que é crase?
Crase é a fusão das vogais “a”: a + a = à
Vamos à sua estrutura padrão para ficar tudo mais fácil:
Assim, quando um verbo ou um nome exigir a preposição “a” e o substantivo posterior admitir artigo “a”, haverá crase. Além disso, se houver a preposição “a” seguida dos pronomes “aquele”, “aquela”, “aquilo”, “a” (=aquela) e “a qual”; ocorrerá crase.
Veja as frases abaixo e procure entendê-las com base no esquema acima:
- Obedeço à lei.
- Obedeço ao código.
- Tenho aversão à atividade manual.
- Tenho aversão ao trabalho manual.
- Refiro-me àquela casa.
- Refiro-me àquele livro.
- Refiro-me àquilo.
- Não me refiro àquela casa da esquerda, mas à da direita.
- Esta é a casa à qual me referi.
Na frase 1, o verbo “Obedeço” é transitivo indireto e exige preposição “a”, e o substantivo “lei” é feminino e admite artigo “a”, por isso há crase.
Na frase 2, o mesmo verbo exige a preposição, porém o substantivo posterior é masculino, por isso não há crase.
Na frase 3, a crase ocorre porque o substantivo “aversão” exigiu a preposição “a” e o substantivo “atividade” admitiu o artigo feminino “a”.
Na frase 4, “aversão” exige preposição “a”, mas “trabalho” é substantivo masculino, por isso não há crase.
Nas frases 5, 6 e 7, “Refiro-me” exige preposição “a”, e os pronomes demonstrativos “aquela”, “aquele” e “aquilo” possuem vogal “a” inicial (não é artigo), por isso há crase.
Na frase 8, “me refiro” exige preposição “a”, “aquela” possui vogal “a” inicial (não é artigo) e “a” tem valor de “aquela”, por isso há duas ocorrências de crase.
Na frase 9, “me referi” exige preposição “a”, e o pronome relativo “a qual” é iniciado por artigo “a”, por isso há crase.
Vejamos abaixo algumas regras:
- Quando os pronomes de tratamento estão na função de objeto indireto ou complemento nominal, antecedidos da preposição “a”, não recebem crase, pois não admitem artigo.
Refiro-me a Vossa Senhoria. Fiz referência a Vossa Excelência.
Observação: Dentre os pronomes de tratamento, senhora admite artigo “a”, por isso, se esse pronome for precedido de preposição “a”, haverá crase:
Refiro-me à senhora Gioconda.
- Diante de topônimos (nomes de lugar) que pedem o artigo feminino, admite-se a crase:
Faremos uma excursão à Bahia, a Sergipe, a Alagoas e à Paraíba.
Um túnel ferroviário liga a França à Inglaterra.
Perceba que o substantivo “excursão” exige a preposição “a” e os topônimos “Bahia” e “Paraíba” admitem artigo “a”. Por isso há crase. Já os topônimos “Sergipe” e “Alagoas” não admitem artigo; por isso não há crase.
Mas será que devemos decorar quais os topônimos admitem ou não o artigo “a”? Lógico que não, para isso, temos alguns macetes.
Para você saber se o topônimo pede ou não o artigo, basta trocar o verbo (que exige a preposição “a”) por outro que exija preposição diferente, para evitar a confusão da preposição com o artigo. Veja:
Fui à Bahia. Fui a Sergipe. Fui a Roma.
Para termos certeza de que há artigo ou não, basta trocarmos por “vim”. Veja:
Vim da Bahia. Vim de Sergipe. Vim de Roma.
Como o verbo “Vim” exige preposição “de”, se a oração permanecer somente com essa preposição, é sinal de que, com o verbo “Fui”, também permanecerá só a preposição “a” (Vim de Sergipe → Fui a Sergipe).
Mas, se o verbo “Vim” estiver seguido de preposição mais artigo “da”, é sinal de que, com o verbo “Fui”, também ocorrerá preposição mais artigo “à” (Vim da Bahia → Fui à Bahia).
Entretanto, você vai notar que, às vezes, queremos enfatizar, determinar, especificar esses topônimos que não admitem o artigo. Quando colocamos uma locução adjetiva ou outro determinante que o caracterize, naturalmente receberá artigo. Havendo verbo que exija a preposição “a”, ocorrerá a crase. Veja:
Viajamos a Brasília, depois fomos a São Paulo.
(Viemos de Brasília … de São Paulo)
Viajamos à Brasília de Juscelino, depois fomos à São Paulo da garoa.
(Viemos da Brasília de Juscelino … da São Paulo da garoa)
Portanto, sem decoreba, ok? Temos que entender o uso. Vamos a outros casos.
- A palavra casa normalmente admite artigo (a casa é linda; comprei a casa de meus sonhos; pintei a casa de azul, etc). Porém, quando há um sentido de deslocamento para ou do “próprio lar”, ela não admite artigo. Mas isso não será problema para nós, pois usamos isso intuitivamente. Vamos lá:
Você diz: “vim de casa” ou “vim da casa”?
Você diz: “vou para casa” ou “vou para a casa”?
Se é seu próprio lar, é natural dizer, “vim de casa”, “vou para casa”. Porém, quando essa casa não é a sua, naturalmente e intuitivamente, coloca-se um determinante nesse substantivo e obrigatoriamente inserimos artigo. Tudo isso para mostrar que a casa não é a nossa. Está em dúvida? Então veja:
Você diz “vim de casa da Luzia” ou “vim da casa da Luzia”?
Você diz “vou para casa da Luzia” ou “vou para a casa da Luzia”?
Naturalmente usamos as segundas opções, correto?
Sabemos que isso não proporciona a crase. Mas, se enxergamos que a preposição “para” tem o mesmo valor da preposição “a”; na sua substituição, podemos ter crase. Veja:
Vou para casa. Vou para a casa da Amélia.
a + a
Vou a casa. Vou à casa da Amélia.
O bom filho volta a casa todos os dias.
O bom filho volta à casa dos pais todos os dias.
Note que se pode determinar a palavra “casa” colocando letra inicial maiúscula (Casa). Assim, essa palavra passa a ter outra denotação: sinônimo de Câmara dos Deputados ou representação de uma instituição. Dessa forma, poderá ocorrer a crase:
Prestar à Casa as devidas homenagens.
- Seguindo a mesma ideia do item anterior, a palavra “terra” admite artigo normalmente.
A terra é boa! Ele vive da terra!
Assim, haverá crase:
O agricultor dedica-se à terra.
Não há crase quando a palavra terra está em contraposição a “a bordo”. Isso porque não dizemos “ao bordo”. Não pode haver artigo nesta expressão:
Os marinheiros voltaram a terra depois de um mês no mar. (estavam a bordo)
Mas, se determinamos essa palavra, passamos a ter artigo e, consequentemente, crase. Veja:
Viajou em visita à terra dos antepassados.
Quando os astronautas voltarão à Terra? (a letra maiúscula determina)
- Na locução à uma, significando unanimemente, conjuntamente”, haverá crase. Veja:
Os sindicalistas responderam à uma: greve já!
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Tentar não significa conseguir.
Mas quem, conseguiu, com certeza tentou. E muito!
Até o próximo bate-papo!